terça-feira, 5 de julho de 2011

Crítica: Se Beber, Não Case - Parte II

The Hagover Part II (EUA, 2011), dirigido por Todd Phillips, escrito por Craig Mazin, Scot Armstrong e Todd Phillips; com Bradley Cooper, Ed Helms, Zach Galifianakis, Justin Bartha, Ken Jeong, Paul Giamatti, Manson Lee, e outros.

Se Beber Não Case Parte II críticaUm dos maiores erros que uma sequência pode cometer é tentar repetir as melhores situações do filme que o antecedeu, almejando transformá-las em fórmulas para assim obter o mesmo sucesso enquanto que o desenvolvimento das personagens é sacrificado e o roteiro se perde na tentativa tola de fazer rir em dobro (no caso das comédias), graças ao comprometimento da criatividade provocado por tal postura. Portanto, os projetos que seguem essa cartilha não são produzidos com nenhum outro objetivo que não seja o de arrecadar bilheterias para o estúdio, sem nenhuma pretensão minimamente artística. Se Beber, Não Case - Parte II não comete apenas esse erro, mas tenta fazer do primeiro filme por completo uma fórmula a ser explorada até a exaustão ao utilizar a mesma premissa, o que, por si só, se revela uma péssima escolha.


Sem a menor criatividade, este segundo filme aposta na mesma história já vista no primeiro, só que agora o casamento em questão é do personagem Stu (Helms) e a cerimônia acontece na Tailândia. Unidos novamente pela ocasião especial, Phil (Cooper), Alan (Galifianakis), Doug (Bartha) e o noivo da vez acabam sendo - pasmem - novamente drogados, e a simples despedida de solteiro acaba se transformando em uma grande confusão, repleta de situações absurdas, que só pioram ainda mais quando os quatro amigos acordam no dia do casamento sem as suas memórias a respeito da desvairada noite e descobrem que literalmente perderam Teddy (Lee), o jovem cunhado de Stu, na cidade de Bangkok.

No intuito de criar uma expectativa a cerca de todas as eventualidades sofridas pelos personagens, o filme abre com uma cena desnecessária na qual os envolvidos se encontram desesperançosos do reencontro com Teddy horas antes do casamento de Stu, para na cena seguinte retomarmos dias antes da viagem à Tailândia, ainda nos preparativos do casamento. Tal recurso seria interessante para uma comédia que visa apenas entreter caso nossa expectativa não fosse posteriormente frustrada pelos desinteressantes acontecimentos, que empalidecem pela falta de criatividade quando relacionados com os eventos da primeira parte - além do fato de que, quando não soam artificiais, as situações cômicas aqui são exageradas e apelativas, que tornam a postura politicamente incorreta do filme, herdada de seu predecessor, apenas uma desculpa para a tentativa de se fazer rir com um humor rasteiro.

Assim, se em Se Beber, Não Case o politicamente incorreto foi bem utilizado e pode ser considerado uma das maiores razões para o seu sucesso, por se diferenciar em tempos onde o politicamente correto reina e tolhe o humor mais áspero e crítico, este segundo filme apela para imagens de um travesti nu, que provavelmente teve relações sexuais com Stu durante o seu lapso, para, em seguida, os personagens lamentarem de forma exagerada e pesarosa, como se fazer sexo com um travesti fosse sinônimo de morte - da mesma forma, a inclusão de um macaquinho que fuma, bebe, trabalha traficando drogas e usa uma jaqueta com a simbólica língua dos Rolling Stones, é justificada apenas para incluir gags, em sua maioria, de mal gosto, já que o filme várias vezes apela para o clichê ridículo do animalzinho que interage, entende tudo o que os personagens falam e o que acontece a sua volta. Não obstante, mesmo com essas desmedidas, essas situações citadas são as mais engraçadas de um filme que na maioria das vezes entedia e que tem o seu único momento realmente divertido apenas no pequeno e rápido clipe que mostra as memórias apagadas de Alan sobre a noite anterior, quando este se entrega a uma sessão de meditação, nas quais vemos os personagens como crianças farreando na cidade de Bangkok - ou seja, crianças bebendo, fumando e xingando como raras vezes pôde ser visto em Hollywood.

Com uma mentalidade de uma criança de sete anos e comportamentos quase incompreensíveis, o personagem de Galifianakis parece estar mais insano do que nunca, as atitude de Allan aqui já não são de uma pessoa normal e pouco convencem, mais parecendo tentativas forçadas de fazer o público rir. Talentoso na sua maneira estranha, o ator parece estar obcecado, tanto quanto a produção do filme, em parecer mais engraçado do que nunca, esforço que geralmente sabota a própria comicidade por anular a naturalidade essencial. Mas de igual maneira, o resto do elenco demonstra reações constantemente exageradas, não hesitando em gritar sempre que possível, agindo na maioria das vezes de maneira excessivamente histriônica.

A direção de Todd Phillips, que em geral faz um bom trabalho, desta vez peca até mesmo em compor situações das mais simples, e na sequência em que Allan atira com uma arma no teto de uma boate, o proprietário simplesmente ignora o prejuízo evidente e ainda presta um favor informativo aos personagens, em uma atitude completamente incoerente. Até mesmo o roteiro se mostra contraditório, afinal, se Mr. Chow (Jeong) se lembrava de tudo o que havia acontecido na noite da despedida de solteiro, como bem afirma no início do filme, por que ele simplesmente não disse onde o Teddy estava quando finalmente encontra os Stu, Allan e Phil? Provavelmente para impedir que o filme acabasse logo ou por puro descuido dos roteiristas. A inclusão de Mr. Chow, aliás, se revela forçada e pouco convincente, já que a relação deste com os protagonistas simplesmente nunca existiu - e, nesse sentido, criar uma amizade entre o traficante afetado e Allan com o intuito de justificar a presença do primeiro soou como uma trapaça dos roteiristas.

Típico de uma sequência que tenta repetir a risca os feitos do primeiro filme, Se Beber, Não Case Parte II não acrescenta nada a seus personagens, pois tudo o que vemos não passa de uma repetição pouco inspirada da estrutura narrativa, capaz de decalcar até mesmo os arcos dramáticos (?) e os seus desfechos (Stu novamente supera sua submissão), revelando-se uma cópia sem charme e criatividade, que ainda tem a prepotência de querer ser superior. Se eu quisesse assistir ao mesmo filme que vi em 2009, teria alugado ou feito um download. Desde o século passado a reprodutibilidade técnica nos possibilita isso.

Cotação: Irregular

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