sexta-feira, 8 de julho de 2011

Em Foco: King Kong (1933)

King Kong 1933

Nenhum filme se torna um clássico por acaso. Mesmo depois de setenta anos, King Kong ainda se sustenta como um ícone do cinema e um dos mais importantes filmes de monstros gigantes da história, inspirando até hoje vários cineastas do cinema de entretenimento. Mas não é muito difícil entender o tamanho fascínio que o filme provoca quando se constata a grandiosidade de muitas passagens e sequências construídas pela dupla Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack com uma utilização eficaz da sintaxe do cinema (a época, recém fixada) e um pioneirismo no que se refere aos efeitos especiais e o desenvolvimento de novas técnicas ou o aperfeiçoamento destas para a obtenção da impressão desejada.


O fato é que, para uma época na qual havia ainda uma grande limitação técnica do cinema (os efeitos se resumiam a trucagens mais simples) e os filmes de horror ganhavam lenta ascensão, King Kong deu um corajoso e grande passo do cinema em sua faceta de entretenimento justamente no período da crise financeira mundial em que Hollywood tentava superar suas dificuldades. Desse momento surgiram os filmes de gângster, o noir, e os monstros do cinema, em geral, produzidos pela Universal.

Na conhecida história, uma equipe de cinema comandada por Carl Denham viaja até uma misteriosa ilha para filmar aquele que seria o maior filme do cineasta, mas descobrem que o local é habitado por uma civilização primitiva que oferece mulheres a um gorila gigante considerado um deus. Quando a atriz principal do projeto é sequestrada pelos nativos, a equipe de marinheiros parte em resgate enquanto Denham tenta capturar a fera para torná-la um espetáculo em Nova York. Durante toda essa sequência de acontecimentos, os personagens enfrentam dinossauros, insetos gigantes e as mais adversas situações de um filme de aventura enquanto presenciamos cenários gigantescos e sequências que devem ter deixado o público da época extasiado.

Qualquer comparação que façamos com o que hoje vemos de efeitos especiais é injusta e sem sentido, o trabalho feito ali através da técnica de stop motion e de perspectiva forçada foi de um talento invejável de Harry Redmond Jr., que nas décadas seguintes inspirou inclusive os feitos do grande técnico de animação Ray Harryhausen em projetos semelhantes. E se ao olhar os efeitos especiais do longa e sentir certa tendência ao desdém, basta assistir a filmografia do período para que se constaste o salto que, para além do tecnológico, foi dado em ousadia. Poucos roteiros da época se atreveram a propor sequências tão engenhosas de ação que requeriam uma logística complexa, assim como diversos cenários, sets grandiosos sobremaneira, e caros.

Apesar de ser um filme de puro entretenimento e poucas idéias, King Kong é fruto também de grandes trabalhos artísticos, seja pela direção empenhada em dar dimensões gigantescas a aventura ou a montagem dramática e ritmada que, muito bem pontuada pela trilha envolvente e constante, absorvem o espectador para a ação. A dupla de diretores também tem a perspicácia de compreender a importância da suspensão e prolongamento das sequências de ação, incomuns no naquela época, mas que aumentam a tensão e o envolvimento até o desfecho - então, momentos como a luta do Kong com o T-Rex e o lento abate ao gorila no topo do Empire State ganham ênfase dramática. O personagem título, vale dizer, é tratado não com impessoalidade, mas atribuindo-lhe um sutil carisma e sentimentalismo através do seu apego a Ann Darrow e o seu comportamento de mero animal selvagem cheio de instintos (impressão que lhe atribui paradoxalmente certa fragilidade).

Ocorre sempre um erro imenso em se julgar uma obra se esquecendo de relacioná-la com o seu contexto de origem. King Kong em sua época foi realmente rei, e merece os créditos recebidos, quando falamos de técnica e de sua importância para o futuro do cinema de entretenimento.

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