Fast Five (EUA, 2011), direção de Justin Lin, escrito por Chris Morgan, com Vin Diesel, Paul Walker, Jordana Brewster, Tyrese Gibson, Joaquim de Almeida, Matt Schulze, e outros.
Não sou um expert em carros, conheço apenas as marcas mais populares no Brasil, não entendo quase nada de mecânica automobilística e nem fico sexualmente excitado com máquinas turbinadas. Mas nada disso tem importância, pois este Velozes e Furiosos 5 praticamente esquece os carros, as corridas, e aposta mais em uma trama de ação policial - uma tendência progressivamente perceptível nos filmes anteriores. Isso, no entanto, também não tem a menor relevância, pois esse quinto episódio é tão ruim quanto os que o antecederam, revelando que as disputas de carros não faziam praticamente diferença alguma na narrativa destes filmes.
Após o resgate de Dominic Toretto (Diesel) por sua irmã Mia (Brewster) e Brian O'Conner (Walker), os três personagens acabam se refugiando no Rio de Janeiro, onde encontram Vince, que propõe o roubo de carros que estão sendo levados em um trem. A equipe realiza a operação e esconde os carros em plena favela carioca, mas descobrem que um dos automóveis tem um chip que possui todas as operações ilegais de Hernan Reyes (de Almeida) - um corrupto considerado o dono da cidade - assim como os locais onde ele guarda todo o seu dinheiro. Toretto decide, então, formar uma equipe e montar a maior operação que eles já fizeram para roubar o dinheiro de Reyes.
Talvez eu tenha sido um pouco injusto na introdução deste texto. Velozes 5 consegue até divertir em alguns poucos momentos e tem seqüências de ação que, no contexto cinematográfico atual, são razoavelmente interessantes e discerníveis - e em épocas em que muitos cineastas, encabeçados pelo "genial" Michael Bay, parecem sofrer de ataques epilépticos durante as filmagens das seqüências em questão, o longa aparenta ter sido minimamente decupado antes de ser filmado (não deixando o trabalho de concepção visual dessas cenas apenas para a montagem), evitando, assim, aqueles planos excessivamente trêmulos, os cortes secos, a mudança frenética de plano, e a confusão geral, que em geral não nos possibilita compreender o que está acontecendo. No entanto, o longa conta com algumas seqüências de ação que beiram o absurdo de tão exageradas: como a que ocorre no terceiro ato, que envolve dois carros em fuga arrastando um grande cofre pelas ruas do Rio de Janeiro, perseguidos por quase toda a viatura da polícia da cidade.
Mas a cidade maravilhosa talvez seja a maior vítima do roteiro de Chris Morgan (o mesmo responsável pelos filmes anteriores. Logo, faz sentido!). Apresentando a cidade como um reduto do crime - fazendo jus aos velhos filmes de ação hollywoodianos que retrataram bastante o Brasil dessa forma -, o roteirista parece ter se inspirado muito mal em Tropa de Elite para contextualizar a estadia dos seus heróis, colocando traficantes e quase todos os policiais corruptos no encalço destes - e no filme de Lin, aparentemente uma única policial não sucumbiu aos atos ilícitos. Mas o roteiro de Morgan chega ao absurdo de representar a cidade como um lugar relegado ao caos, sem intervenção praticamente alguma do Estado, com uma polícia completamente incompetente, e dominado por um traficante/mafioso (ou político, ficou dúbio) com pinta e nome de mexicano chamado Hernan Reyes - algo que não faz o menor sentido. Cheguei a sentir pena dos transeuntes cariocas.
Mas os problemas de Velozes 5 não ficam por aqui. Acometido por algumas incoerências e inconstâncias, o roteiro se revela completamente maniqueísta no terceiro ato ao forçar a mudança total de comportamento de determinado personagem. Da mesma forma, os personagens, vez por outra, tomam decisões sem sentido, como por exemplo, no instante em que Dom, mesmo sabendo quase simultaneamente que sua irmã Mia é procurada pelo FBI e está grávida, ainda assim cria o plano praticamente suicida de roubar todos os "recursos" do "dono da cidade" - o que, a risca, pode também significar o completo desinteresse do protagonista na segurança de sua irmã, que já está na mira do mafioso. Mas os personagens são tão cheios de si e seguros, que eles sequer cogitam qualquer possibilidade de insucesso em suas missões, assim como em nenhum momento o filme nos leva acreditar que pelo menos um dos personagens corra de fato algum risco.
Da mesma forma, algumas questões ficam no ar, como o porquê de roubar carros de um trem em movimento (que exige todo um aparato e precisão) quando seria muito mais confortável pegá-los em uma concessionária ou em um caminhão cegonha? Ou como uma pessoa que está na lista de procurados do FBI consegue simplesmente encomendar um cofre? A resposta da primeira pergunta é simples: apenas um motivo para criar uma seqüência impressionante. Confirmando a falta de inteligência dos personagens, o ato final, centrado no roubo ao cofre de Reyes, nos revela a tamanha burrice do plano da equipe de Dom, que parece ter contado apenas com a sorte e a falta de bom senso de quem escreveu e dirigiu o filme para ultrapassar seus obstáculos.
Mas os momentos que mostram Dom, Brian, Mia e Vince (Schulze) interagirem como se fossem uma família seriam bem interessantes se praticamente todo o resto filme não deixasse a desejar, sobretudo, no que se refere aos personagens: o vilão Hernan Reyes é uma figura completamente unidimensional, enquanto a policial recrutada por Luke Hobbs é simplesmente esquecida na metade do segundo ato pra frente, servindo apenas como um par romântico para o personagem de Diesel, numa relação que se desenvolve embaraçosamente - a personagem, aliás, é apresentada através de um diálogo extremamente constrangedor a respeito de suas motivações para trabalhar na polícia militar. E de momentos constrangedores assim o filme está repleto, graças as atuações nada inspiradas do elenco: Paul Walker surge inexpressivo como sempre (e as poucas expressões são desconexas e vazias), enquanto Vin Diesel, mesmo com seu carisma, parece estar regredindo cada vez mais; ao passo que Dwayne Jhonson surge caricato (até seu corpo ganhou tais proporções), e todo o resto do elenco pouco pôde fazer - e nem acho que fariam se a oportunidade tivessem.
Sem se preocupar em mostrar e apresentar o Rio de Janeiro pelo menos um pouco em sua complexidade - o que indica a escolha da cidade como uma decisão apenas logística -, Velozes e Furiosos 5 tem uma trama fraquíssima, que pouco se justifica e dificilmente soa verossímil.
Cotação: Irregular
Cotação: Irregular
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