terça-feira, 24 de maio de 2011

Crítica: Agentes do Destino, Os

The Adjustment Bureau (EUA, 2011), escrito e dirigido por George Nolfi, com Matt Damon, Emily Blunt, Michael Kally, Anthony Mackie, John Slattery, Terence Stamp, e outros.


Com um conceito criativo e interessante que nos faz recordar a inventividade do recente e exemplar A Origem, Os Agentes do Destino nos apresenta a uma realidade na qual o destino da humanidade é constantemente planejado e encaminhado segundo as intenções do "Presidente" de uma misteriosa agência. Incumbidos de manter o transcorrer do destino sempre no eixo desejado, os tais agentes do destino - dotados de um chapéu que os permitem atravessar, por exemplo, a porta do banheiro de sua agência e sair em outra no vigésimo andar do Empire State Building - estão constantemente fazendo "ajustes" imperceptíveis na vida das pessoas, como levar um indivíduo a derramar café na própria roupa para que este perca o ônibus das 8 horas e 41 minutos da manhã, e assim, não conhecer determinada pessoa que possa vir a promover certa influência no seu percurso de vida e provocar um efeito cascata capaz de gerar resultados imprevisíveis, e claro, fora dos planos.

Centrado na figura do mais jovem deputado federal dos EUA, David Norris (Damon), o filme tem início nos apresentando de forma ágil o personagem e o seu contexto político através de uma série de matérias e reportagens de televisão sobre a campanha política e a vida pessoal do candidato. Ao conhecer a promissora bailarina Elise (Blunt) quando treinava seu discurso de derrota, Norris logo desperta interesse pela mulher. Porém, a união do casal não está nos misteriosos planos da agência secreta: afastar os dois personagens e reajustar o destino, seja através de "incidentes" ou por ameaças, passa a ser uma das prioridades. Três anos após a derrota de Norris nas urnas e a primeira interceptação do personagem pelos agentes, a agência ainda continua a seguir seu plano de mantê-los separados.

Apesar de focar boa parte do desenvolvimento no casal principal - e especialmente na insistência de Norris  em encontrar Elise e estabelecer uma relação antes que a perca novamente de vista -, o roteiro de Os Agentes do Destino procura nos tornar minimamente íntimos dos enigmáticos integrantes da agência, apresentando o ofício deles como quase como se fosse um outro qualquer, como nas constantes cenas nas quais percebemos o receio dos personagens frente a possível reação do seu superior e também ao retratar o envolvimento emocional do agente Harry Mitchell (Mackie) no caso de Norris, quando este deveria se manter neutro. Dessa forma, os agentes não nos são apresentados como indivíduos distantes, frios ou necessariamente maus, evitando que estes surjam como meros vilões unidimensionais, ao contrário, tornando-os infinitamente mais interessantes.

Da mesma forma, Nolfi - que também é responsável pela direção -, em seu roteiro, desenvolve compassadamente a relação de Norris e Elise, tornando os poucos contatos entre o casal interessantes e envolventes o suficiente para que se sintam atraídos um pelo outro, evitando, assim, que a relação não soe de forma maniqueísta e falsa - mas parte desse resultado é graças a atuação de Matt Damon e Emily Blant, que exibiram um jogo de ação e reação envolvente, olhares intensos e expressivos, revelando uma química agradável. Damon, aliás, compõe um tipo diferente daquele que veio fazendo nos seus últimos filmes de ação, tornando o seu David Norris em uma figura, de certa forma, desajeitada ao correr, impulsiva, e que não exibe o mesmo calculismo de Jason Bourne, mas talvez igualmente inteligente. Enquanto isso, Blant é carismática e tem certo charme rebelde que contribui para entendermos o quão envolvido Norris ficou; ao passo que Slaterry nem precisa fazer muito para soar misterioso e servir de representante da tal agência, assim como Terence Stamp soa amedrontador nos seus poucos momentos de tela.

Mas Nolfi parece também ter se comprometido com os pequenos e importantes detalhes de sua trama: dar relevância, a exemplo, nas constantes mudanças de planos dos agentes como forma de impedir que o casal se encontre, ou ao destacar logo no início um pouco do comportamento impulsivo de Norris - que posteriormente funciona como justificativa para a constante busca do personagem por Elise. Outro detalhe interessante reside na forma discretíssima com que o cineasta nos indica o ano em que se passa o primeiro ato do filme, focado na eleição em que Norris é candidato: um telejornal afirma que o protagonista tem maiores chances na sua candidatura na próxima eleição para o senado, em 2010; ou seja, tratava-se de 2006. No entanto, ainda no primeiro ato do filme (em 2006), quando determinado personagem expõe seu pessimismo a Norris ao dizer que logo o país estará sendo governado por caras como o seu adversário de urna, este o responde afirmando que o país já está sendo governado por um político assim - não havendo como não imaginarmos que isso possa ser uma referência ao ex-presidente americano George W. Bush - justa, vale dizer, já que o adversário de Norris está sempre recebendo críticas.

Da mesma maneira, Nolfi se utiliza do conceito que criou para dar respostas a situações do nosso dia a dia: quando as coisas dão insistentemente erradas para você, não é o acaso, estão ajustando o seu destino. Por outro lado, não somos contemplados com respostas sobre o objeto mais intrigante do longa: uma espécie de caderno "mágico", usado pelos agentes para prever o movimento das pessoas, e que mais parece ter sido extraído da série Harry Potter.

Com um resultado também satisfatório, a trilha sonora do ótimo Thomas Newman é bem mais discreta que o de costume, enquanto que a fotografia de John Toll é eficiente ao conter a luz e apostar na paleta azulada e em cores frias, construindo uma frialdade e uma atmosfera não muito empolgante. Igualmente, a Direção de Arte e o a figurinista fizeram, respectivamente, um trabalho interessante no interior amadeirado do prédio que sedia a agência e nos figurinos retrô dos agentes.

Explorando dentro da sua narrativa idéias como a recorrente incompatibilidade entre vida amorosa e vida profissional, Os Agentes do Destino falha apenas com o seu desfecho, que soa forçado e abrupto, indicando que George Nolfi não soube o que fazer exatamente com a trama que criou, além de ter se arriscado pouco no momento mais importante. Ainda assim, o filme mantém a sua coerência até o final, pena não ter explorado o seu conceito com mais profundidade. Mas foi por uma boa causa: se concentrar muito mais em seus personagens.

Cotação: Ótimo

Um comentário:

  1. Olá,
    por esse ponto de vista o filme até parece mais do que uma simples ação com casais. Belo blog!

    Atenciosamente, SRed!

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