Sucker Punch (EUA, 2011), dirigido por Zack Snyder, escrito por Zack Snyder e Steve Shibuya, com Emily Browning, Abbie Cornish, Jena Malone, Vanessa Hudgens, Jamie Chung, Carla Gugino e Oscar Isaac.
Em Sucker Punch - Mundo Surreal, Zack Snyder aproveitou para brincar e fazer um exercício de estilo e gênero. Escrito pelo próprio diretor com a ajuda de Steve Shibuya, o filme se utiliza de sua premissa para "recriar" ambientes e situações comuns a gêneros específicos e atuais do cinema, aproveitando a fotografia e a direção de arte como os principais elementos dessas composições. Diretor com apenas cinco longas produzidos, Snyder em pouco tempo se estabeleceu com sucesso na indústria cinematográfica de Hollywood, algo que se justifica não só pelo sucesso de seus projetos, mas também pela sua capacidade em criar grandes e belas imagens (que beiram o sublime), sempre trabalhando com empenho no visual de seus filmes, mesmo que em algumas ocasiões esse trabalho não contribua para a narrativa.
Abrindo com uma seqüência que mais parece um videoclipe praticamente todo em slow motion, Sucker Punch resume em poucos minutos todo o drama da jovem Baby Doll (assim apelidada na história), quando sua mãe foi supostamente assassinada pelo padastro. Internada num hospital psiquiátrico, a jovem vive uma dura e cruel realidade, até que esta é obrigada a passar por um processo de lobotomia. A partir de então, a consciência da personagem perde os limites entre o real e o ilusório, e passa a se refugiar em um mundo fantástico, no qual Baby Doll precisa se unir às suas amigas para conseguir cinco itens, e assim, fugir de sua realidade.
Iniciando com a abertura das cortinas de um palco, no qual surge o ícone da Warner Bros e a primeira cena acontece, o filme trata de sinalizar, logo em sua primeira imagem, o caráter teatral ou irreal da narrativa, que pouco se prenderá ao realismo - e assim, a seqüência inicial que se desenrola ao som de uma versão dramática e sombria (com direito até a uma intervenção sempre sinistra de um órgão na trilha sonora, diga-se de passagem) da canção "Sweet Dreams", da Eurythmics, serve para complementar essa mensagem ao mesmo tempo em que os versos da música combinam perfeitamente com a trama. Dessa forma, algumas caracterizações caricatas ou superficiais de alguns personagens, assim como os cenários desolados, os figurinos performáticos (Baby Doll parece ter conseguido sua roupa com alguma personagem suspeita de um hentai) ou as cenas de ação extravagantes acabam adquirindo licença para despontarem e estilizarem o filme.
Aproveitando o fato de a protagonista estar se refugiando na própria imaginação, Snyder se dedicar em cada uma das curtas jornadas de Baby Doll a exercitar gêneros cinematográficos. Assim, a cada busca de um dos itens que a personagem deseja obter para a sua fuga, a imaginação da jovem a leva a lugares tão fantásticos como os de O Senhor dos Anéis, com direito a orcs e dragões; ou a um cenário de ficção científica, repletos de robôs e exemplares tecnológicos típicos. Da mesma forma, a fotografia de Larry Fong acompanha a imersão nos gêneros, e as cenas que se passam nas trincheiras de um campo de batalha ganham as colorações acinzentadas típicas de um filme de guerra - e como não se lembrar de Moulin Rouge durante as cenas no bordel no qual as personagens são obrigadas a trabalhar? O vermelho e as cores quentes da fotografia remetem ao filme de Baz Luhrmamm, enquanto a própria estrutura narrativa, que intercala as cenas do bordel com as cenas das fantasias de Baby Doll enquanto esta apresenta suas danças, ecoa diretamente o gênero musical.
Mas as composições são concebidas também através das trilhas sonoras, que seguem as convenções de cada gênero, igualmente as coreografias das lutas nas cenas de ação. Além da referência aos gêneros cinematográficos, Snyder faz um discreto flerte com os games ao finalizar cada missão de Baby Doll como se estas fossem fases ou níveis que estavam sendo superados, logo, o final da cena em que esta luta com um dragão, sobe uma trilha que mais se assemelha a uma vinheta de vitória enquanto a câmera enquadra a personagem: ficou faltando apenas moedas caírem sobre ela para que tivéssemos dúvida se aquilo era um filme ou não - algo que Scott Pilgrim vs o Mundo fez divertidamente em sua referência mais direta aos videogames.
Sempre enfatizando a beleza das atrizes, Sucker Punch falha ao tornar as personagens indestrutíveis, de tal modo que não adquirem um ferimento qualquer durante quase todo o longa, o que acaba por tornar as cenas de ação um pouco enfadonhas e desprovidas de tensão, mesmo que muitas vezes visualmente interessante. Tendo boa parte das seqüências provavelmente filmadas em estúdio, os efeitos especiais cumprem com eficácia a sua função e contribue muito para a composição das belas imagens - no entanto, Snyder usa e abusa de slow motion sem propósitos específicos, a não ser o de estilizar. Por outro lado, Tyler Bates e Marius De Vries fazem um interessante trabalho na composição e seleção da trilha sonora, que se torna praticamente uma atração a parte.
Apostando em um arriscado e chocante final, Sucker Punch tenta imprimir artificialmente uma idéia ou lição na última cena, que, mesmo que tenha feito parte da jornada da protagonista, sequer foi suficientemente argumentada durante a história. O filme, no entanto, não deixa de ser um grande atrativo audiovisual, com suas belas atrizes, imagens inspiradas e uma trilha atrativa e certeira.
Cotação: regular
Cotação: regular
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